Bullying é crime no Brasil desde janeiro de 2024.
Pesquisa global da UNICEF realizada em 30 países revelou que cerca de um terço dos jovens de 13 a 24 anos já sofreram bullying. Isso inclui mensagens de ódio, ameaças e disseminação de rumores falsos.
No Brasil, uma pesquisa apoiada pela Universidade de Stanford mostrou que 1 a cada 4 estudantes do ensino básico já foi vítima de intimidação nos últimos 12 meses.
Conversei com a Dra. Ana Paula Siqueira Lazzareschi de Mesquita, fundadora e presidente da SOS Bullying, sobre o assunto.
Ana Paula é graduada em Direito e pós-graduada em Direito Empresarial pelo Mackenzie, mestre em Direito Civil Comparado pela PUC-SP onde atualmente realiza doutorado em ciberbullying e segurança digital. Há quase 20 anos atua profissionalmente junto a escolas, professores e alunos em casos de bullying, ciberbullying e educação digital.
É importante a gente localizar que o bullying não se trata meramente de “uma brincadeira de criança” e é crime no Brasil desde que a Lei 14.811/2024 foi sancionada em 12 de janeiro de 2024. A nova lei tipifica o bullying como crime, acrescentando o artigo 146-A ao Código Penal.
O bullying acarreta consequências graves e sérias para as vítimas e em casos mais extremos pode levar as vítimas à morte ou a cometerem suicídio.
Dra. Ana Paula nos conta que a SOS Bullying nasceu exatamente quando sua filha foi vítima de bullying na escola. “A SOS Bullying é a Associação de Serviço de Orientação e Suporte às Vítimas do Bullying. Trabalhamos para conscientizar e educar, criando ambientes seguros e inclusivos nas escolas e comunidades. Fundada em 1º de dezembro de 2023, somos uma organização sem fins lucrativos, apartidária e laica, situada na cidade de São Paulo, com o objetivo de combater o bullying através de diversas frentes de ação. Entre os nossos objetivos estão: a promoção de campanhas de conscientização em escolas, universidades e comunidades, destacando os impactos negativos do bullying na saúde mental e no bem-estar das vítimas; desenvolvimento de programas educacionais destinados a alunos, professores e pais, orientando-os sobre como identificar, prevenir e lidar com situações de bullying; suporte emocional e aconselhamento para vítimas de bullying, incluindo serviços de terapia e grupos de apoio; disponibilização de recursos e orientações sobre como reagir e denunciar casos de bullying; capacitação de educadores e famílias com a realização de workshops e treinamentos para escolas, universidades e famílias, ensinando-os a identificar sinais de bullying e a intervir de maneira eficaz para cessar o comportamento abusivo, entre outras ações”.
A SOS Bullying ainda atua junto a políticas públicas trabalhando em conjunto com legisladores para fortalecer as leis e políticas contra o bullying, além de promover mudanças nas políticas escolares para assegurar ambientes de aprendizado seguros e inclusivos. “Conduzimos pesquisas autônomas e colaboramos com instituições para estudar as causas, efeitos e estratégias de prevenção do bullying, utilizando esses dados para aprimorar nossas práticas e estratégias. Também formamos parcerias com outras organizações para ampliar o alcance e a eficácia das nossas iniciativas contra o bullying”, ressalta Dra. Ana Paula.
Como identificar o bullying?
Fique atento aos sinais e comportamentos das vítimas e agressores, e saiba como agir para ajudar a combater essa prática nociva.
O bullying pode se manifestar de várias formas e é essencial saber reconhecer os sinais para poder agir e ajudar a combater essa prática nociva.
A Dra. Ana Paula nos conta que existem diferentes tipos de bullying: Bullying Verbal: Inclui insultos, xingamentos, comentários ofensivos e humilhações. As vítimas podem apresentar sinais de ansiedade, baixo autoestima e evitam interações sociais; Bullying Físico: Envolve agressões físicas como empurrões, socos, chutes e qualquer forma de violência corporal. As vítimas podem ter machucados frequentes, lesões e um medo constante de ir à escola ou a outros lugares onde o agressor esteja presente; Bullying Psicológico: Envolve manipulação, chantagem, ameaças e intimidação. As vítimas podem mostrar sinais de depressão, isolamento, mudança de comportamento e dificuldades de concentração; e Bullying Virtual (Cyberbullying): Acontece através da internet, redes sociais, mensagens de texto e outras plataformas digitais. As vítimas podem apresentar ansiedade, afastamento das redes sociais, mudança repentina de humor após usar dispositivos eletrônicos e, em casos extremos, comportamento autodestrutivo.
Como denunciar?
“Somos a maior plataforma de reclamações e denúncias de bullying da América Latina. Possibilitamos que vítimas de bullying, familiares e responsáveis façam suas denúncias e encontrem apoio para resolverem seus conflitos. Esta plataforma permite que qualquer pessoa possa denunciar casos de bullying de maneira segura e anônima. O objetivo é criar um espaço onde as vítimas possam relatar suas experiências e buscar apoio, enquanto a associação utiliza esses dados para mapear e combater o bullying de forma mais eficaz”.
A plataforma também serve como um canal de comunicação entre a SOS Bullying e as instituições, ajudando a identificar problemas recorrentes e a desenvolver soluções específicas para cada caso. Além disso, fornece informações valiosas para campanhas de conscientização e políticas públicas mais robustas.
A SOS Bullying está comprometida com a criação de um ambiente seguro e inclusivo para todos, trabalhando incansavelmente para erradicar o bullying e oferecer suporte às vítimas. Através de suas diversas iniciativas e da nova plataforma de denúncias, a associação busca promover um futuro onde todos possam viver sem medo de serem discriminados ou abusados.
Acesse a plataforma de denúncia online para relatar os casos de bullying. A plataforma é segura e permite o envio de denúncias de forma anônima. Ao fazer a denúncia, forneça o máximo de informações possível. Descreva os eventos em detalhes para que seja possível entender completamente a situação. Após a denúncia, tenha acesso ao suporte de profissionais especializados em lidar com bullying. A SOS Bullying oferece aconselhamento e orientação para ajudar a enfrentar e superar a situação.
Serviço:
Ouça aqui a entrevista completa com a Dra. Ana Paula Siqueira Lazzareschi de Mesquita.
https://open.spotify.com/episode/2q5EhAlDTFiyQfn3Zbbx0s?si=FHSZjzeNQ6y1DW0aadpbmg
Patrizia Corsetto é jornalista, radialista e assina
semanalmente a coluna de cultura