Expectativas econômicas desfavoráveis e inflação contribuíram para a queda do consumo em junho; índice atinge o menor patamar desde agosto de 2023
Os lares paulistanos continuaram menos propensos às compras no mês de junho, especialmente as de baixa renda. O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), que mede a tendência de consumir no curto e no médio prazos, na cidade de São Paulo, caiu 1,7% — ao passar de 109,3 pontos, em maio, para 107,4 pontos, em junho. No entanto, na comparação anual, o resultado ainda é positivo, visto que cresceu 7% [gráfico 1].
Na visão da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a queda na intenção de consumo das famílias paulistanas foi motivada, principalmente, pelas incertezas econômicas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) subiu 0,45%, em relação ao mês anterior, e já acumula alta de 3,93% nos últimos 12 meses. Essa alta exerce forte influência no orçamento doméstico, em especial entre os lares que recebem até dez salários mínimos. Prova disso é que houve uma queda de 1,7% na intenção de consumo, passando de 106,8 pontos, em maio, para 104,9 pontos, em junho, o menor patamar desde agosto do ano passado. Para as famílias que recebem acima de dez salários mínimos também houve recuo, mas em menor proporção, passando de 116,5 para 114,7 pontos, queda de 1,6%.
Dos sete indicadores que compõem o ICF, seis registraram queda [tabela 1]. A perspectiva profissional foi a que apresentou o maior recuo (4,5%), passando de 115,7 pontos, em maio, para 110,6 pontos, em junho. O cenário laboral como um todo tem gerado apreensão entre os trabalhadores, também motivado pelas incertezas econômicas.
A insegurança quanto ao futuro profissional impacta negativamente outros indicadores, como perspectiva de consumo (3,9%), nível de consumo atual (1,8%), emprego atual (1,2%), acesso ao crédito (2,9%) e momento para duráveis (0,7%). Este último alcançou 79,8 pontos, indicando que os consumidores estão mais pessimistas a consumir produtos de alto valor agregado.
Por outro lado, o indicador renda atual foi o único a registrar alta (2,3%) no mês de junho, ainda influenciado pelos bons resultados do emprego. O dinheiro no bolso das famílias paulistanas tem impulsionado mais o consumo em setores como serviços e bens de consumo rápido, em comparação ao ano passado. Nos últimos 12 meses, o crescimento foi de 11,4%.
Otimismo em baixa
Apesar da queda observada nos últimos quatro meses, o ICF segue acima dos 100 pontos, o que ainda demonstra uma satisfação em relação às intenções de consumo. No entanto, na análise da FecomercioSP, de maneira geral, os paulistanos estão menos otimistas quanto ao momento atual e ao futuro, com incertezas profissionais, dificuldade de acesso ao crédito e impacto negativo na decisão de comprar bens duráveis, que dependem de variáveis como emprego, renda e crédito. A Entidade alerta ainda que fatores como inflação e pressão no preço dos alimentos, em razão das enchentes do Rio Grande do Sul, podem impedir uma alta maior do ICF e provocar oscilações no indicador nos próximos meses.
Ainda assim, o aumento na percepção de renda atual pode representar uma oportunidade para os empresários, visto que os consumidores devem estar mais propensos a gastar em serviços e necessidades básicas. Por outro lado, é preciso estar atento a previsões de vendas e expansão, reajustando o planejamento conforme a evolução do cenário macroeconômico.
ICC
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que mede o otimismo dos paulistanos com o cenário econômico, voltou a subir (0,5%), atingindo 127 pontos [tabela 2]. O resultado foi incentivado pela melhoria nos dois itens que integram os indicadores. O Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) cresceu 0,6%, atingindo 116,5 pontos, promovido pelas melhores condições de renda, emprego e juros. Além disso, registrou uma alta de 15,3% no comparativo anual.
Já o Índice de Expectativas dos Consumidores (IEC) cresceu 0,4%, alcançando 134,1 pontos. No entanto, o indicador sofreu uma queda de 5,2% quando comparado ao mesmo período do ano passado. Segundo a FecomercioSP, essa variação pode estar relacionada às dúvidas dos consumidores com relação a emprego e a acesso ao crédito para a compra de bens duráveis.
Assim como no ICF, é preciso ficar atento ao cenário dos próximos meses. A expectativa é que o custo de vida da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) aumente em decorrência do desastre ambiental no Rio Grande do Sul. A cadeia produtiva deve ser impactada pela escassez, e o desequilíbrio entre oferta e demanda deve pressionar os preços.
Notas metodológicas
ICF
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: Emprego Atual; Perspectiva Profissional; Renda Atual; Acesso ao Crédito; Nível de Consumo; Perspectiva de Consumo e Momento para Duráveis. O índice vai de zero a 200 pontos, no qual abaixo de cem pontos é considerado insatisfatório, e acima de cem pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente de vendas do comércio, tornando possível, a partir do ponto de vista dos consumidores e não por uso de modelos econométricos, ser uma ferramenta poderosa para o varejo, para os fabricantes, para as consultorias, assim como para as instituições financeiras.
ICC
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde 1994. Os dados são coletados com aproximadamente 2,1 mil consumidores no município de São Paulo. O objetivo é identificar o sentimento dos consumidores levando em conta suas condições econômicas atuais e suas expectativas quanto à situação econômica futura. Esses dados são segmentados por nível de renda, sexo e idade. O ICC varia de zero (pessimismo total) a 200 (otimismo total). Sua composição, além do índice geral, se apresenta como: Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e Índice das Expectativas do Consumidor (IEC). Os dados da pesquisa servem como um balizador para decisões de investimento e para formação de estoques por parte dos varejistas, bem como para outros tipos de investimento das empresas.