A APAN lança carta aberta ressaltando a urgência de políticas afirmativas para fortalecer a presença e permanência de profissionais negros no audiovisual
São Paulo, setembro de 2024 – A APAN (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro) anuncia o lançamento da carta aberta que aborda a urgência de se fortalecer a presença negra no audiovisual brasileiro por meio da atuação do poder público municipal, tanto no Legislativo quanto no Executivo. O documento será lançado em uma live especial com convidados e pretende enfatizar a importância das políticas públicas afirmativas. Em nível municipal, essas iniciativas têm sido essenciais para abrir portas e consolidar carreiras no cinema para a população negra.
A carta além de um manifesto, é um chamado à ação, destacando que nos últimos anos o cinema negro no Brasil tem tido sucesso expressivo em exibiçoes emfestivais, cineclubes e plataformas de streaming. Todas essas iniciativas refletem um movimento de resistência e afirmação. No entanto, esse crescimento ainda enfrenta muitas barreiras, que só podem ser superadas com o apoio de políticas públicas que garantam a presença e permanência de profissionais negros na indústria audiovisual.
Durante a live, convidados que atuam no setor compartilharão suas histórias e experiências, demonstrando como as políticas públicas foram fundamentais para ingressar no cinema. Esses relatos identificam o impacto positivo dessas ações, e demonstram a necessidade de uma política cultural que seja de Estado, e não apenas do governo da ocasião. Exemplos de sucesso podem ser observados em cidades das regiões Sudeste e Nordeste, com ações concretas na área audiovisual sido estimuladas e apoiadas, especialmente em Pontos e Pontões de Cultura, por meio dos Arranjos Regionais do Fundo Setorial Audiovisual e em fomento direto via Leis Municipais e outras iniciativas locais de incentivo à Cultura. “É fundamental que os Planos Municipais dialoguem com o Plano Nacional de Cultura e contemplem mecanismos que assegurem recursos contínuos para o audiovisual, garantindo não apenas a manutenção, mas a expansão das conquistas já alcançadas. Sem esse compromisso nos municípios, arriscamos retroceder em avanços cruciais para a presença negra no cinema brasileiro,” afirma Tatiana Carvalho Costa, presidente em exercício da APAN.
O evento de lançamento da carta também servirá como um espaço para discutir as demandas econômicas e estruturantes do setor no sentido de uma Reparação Histórica, no contexto das discussões mundiais relativas ao histórico escravagista das sociedades como a brasileira. Nesse sentido, APAN propõe o fortalecimento de iniciativas que ampliem a participação negra na dinâmica econômica do setor, além de ações voltadas para a preservação e difusão da memória e acervo audiovisual negro, a implementação de salas públicas de cinema, e o estímulo a cineclubes, como formas de consolidar e ampliar a visibilidade das produções negras. Além disso, a carta defende a criação de mecanismos de fomento para empresas vocacionadas para Reparação Histórica antirracista, assegurando que o mercado seja mais inclusivo e diverso.
A Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) tem desempenhado um papel crucial na defesa e promoção da presença negra em todos os elos da cadeia produtiva do audiovisual no Brasil. Com uma análise detalhada da participação negra no setor, a APAN identifica e denuncia a exclusão histórica, ao mesmo tempo, em que demanda políticas públicas e iniciativas de mercado para a reparação e inclusão efetiva de profissionais negros e empresas comandadas por pessoas negras. Segundo a Agência Nacional do Cinema (ANCINE), em 2022, apenas 20% dos filmes nacionais tinham protagonistas negros. Embora este número seja crescente, ele ainda reflete a carência de mais representatividade, e isso se mostra tanto nas estruturas de produção quanto nas narrativas que chegam ao público.
“A exclusão histórica dos profissionais negros no audiovisual precisa ser enfrentada com políticas públicas afirmativas vigorosas. Defendemos a criação de mecanismos que garantam não só a entrada, mas a permanência dos profissionais negros na indústria, tanto na economia quanto no imaginário cultural do país. Os dados já mostram o impacto positivo dessa presença em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, onde o crescimento da produção audiovisual liderada por negros alcançou um aumento expressivo,” afirma Tatiana.
A APAN tem como prioridade a construção de diálogos e parcerias com outras áreas, como a educação, para desenvolver ações conjuntas. A associação defende, para os municípios, a implementação de ações no contexto das Leis 13.006/14, 10.639/03 e 11.645/08, que garantem a exibição de cinema brasileiro independente aliada ao ensino de cultura africana, afro-brasileira e indígena no contexto da Educação Básica.
A difusão do cinema negro é essencial para a consolidação dessas narrativas no imaginário popular.
A APAN convida todos os setores da sociedade a se unirem nesse esforço de reparação histórica, reforçando que o compromisso com as políticas afirmativas e a preservação e difusão da memória cultural negra são passos essenciais para a construção de um futuro mais justo, democrático e representativo no audiovisual brasileiro.